quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A arte não é um mundo à parte!

A arte não é um mundo à parte!
Carlos Cartaxo
A fragmentação da arte em especialidades ou em áreas tem causado um desconforto a quem pesquisa nessa área de conhecimento. Há duas correntes separadas por compreensão teórica que determinam que caminho trilhar. Uma é a concepção da moderna de que a arte deve estar nas galerias, museus, teatros, salões, concertos, para serem apreciados em espaços fechados, geralmente cobrando ingressos. A outra tem princípios conceituais diferentes, parte do fundamen  Essas concepções não são necessariamente antagônicas; claro, em alguns momentos se chocam, em outros se aproximam.
to de que a expressão artística não deve ter como essência interesses financeiros, deve ser livre e não precisa de parecer de críticos, acadêmicos, especialidades para definir o que é ou deixa de ser arte.
O advento no mundo virtual é um exemplo de que a arte fechada e determinada se é arte ou não por um dono do saber não cabe mais no contexto pós-moderno que se configura à nossa frente. Essa questão me remete ao livro Amor líquido de Zygmund Bauman em que o autor aborda sobre os relacionamentos no mundo volátil em que vivemos. Nesse contexto, os relacionamentos virtuais são pragmáticos e efetivos; mas o sonho é um relacionamento real, embora complexo.
No ensino da arte não é diferente, a admiramos expressões artísticas da mais diferentes matizes. Expressões artísticas híbridas, tradicionais ou contemporâneas. Mas na escola tem que ser a caixinha fechada das artes visuais, da música, do teatro e da dança. Será que essas ditas linguagens são tão separadas quanto alguns pregam? Será que a motivação para mergulhar no conhecimento artístico está na arte aberta, plural, híbrida, em rede, fazendo parte de matrizes fluídas com possibilidades múltiplas ou deve ser aquela baseada em linguagens, que nem concordo que são linguagens? Nesse sentido é necessário um debate mais consistente acerca dos princípios metodológicos da abordagem teórica em rede no ensino de arte.
Arte é expressão, não é linguagem. Em algumas situações pode ser linguagem quando se trata de técnicas a serem repetidas; mas quando se fala de livre expressão, de criatividade, de experimentar e vivenciar, o conceito de linguagem na arte vai por ladeira a baixo e perde espaço para concepções em cadeia com base risomática. Essa questão, eu abordo no meu livro “Amor invisível: artes e possibilidades narrativas” com mais profundidade. Lúcia Santaella em “Por que as comunicações e as artes estão convergindo?” também foca no tema em questão. Há pelo menos um século as comunicações estão inseridas nos contextos culturais. Algumas danças nativas, além de artísticas são canais de comunicação que traduzem histórias de vidas.
Foto de Carlos Cartaxo, postada no livro "Amor invisível: artes e possíbilidades narrativas" do mesmo autor.
“Característica marcante da cultura das mídias está na intensificação das misturas entre as mídias por ela provocada: filmes são mostrados na televisão e disponibilizados em vídeo; a publicidade faz uso da fotografia, do vídeo e aparece em uma variedade de mídias; canais de TV a t abo especializam-se em filmes ou em concertos, óperas e programas de arte, etc. Com isso, as misturas entre comunicações e artes também se adensam, tornando suas fronteiras permeáveis.” (SANTAELLA, 2007, p. 14).  
Referências:
BAUMAN, Sygmunt. Amor líquido: sobre as fragilidades dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
SANTAELLA, Lucia. (2007) Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus.

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